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Crítica sobre o filme Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1



Saindo da sala de cinema pouco depois da meia-noite de ontem, eu ouvi três pessoas reclamarem do filme que havíamos assistido em questão. A primeira, uma criança de aproximadamente dez anos, dizia que o filme era chato e feio; a segunda, um homem aparentando uns vinte e sete, brandava que o filme era chato também, mas provavelmente no sentindo "falta de ação"; a terceira pessoa, que me acompanhou na sessão, reclamava das alterações feitas pelo diretor do filme com relação à obra na qual o longa é baseado. O filme em questão que todos nós assistimos foi Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 1 (ao qual tratarei agora como Harry Potter 7-1).


No início da saga do bruxo com a cicatriz em forma de raio, os filmes e também os livros abrangiam um público-alvo que poderia variar entre uma criança pré-escolar e um idoso. Em um tom de fantasia e inocência, víamos garotinhos explodindo com feitiços divertidos de se fazer, e planos mirabolantes de um vilão que voltava à sua ascensão. A medida que acompanhavamos o crescimento daqueles jovens, tanto os livros quanto os filmes amadureciam em conjunto. A partir do terceiro livro / filme, a narrativa começa a focar um público mais sério, com tons mais sombrios e tramas mais complexas.

E depois de seis histórias, chegamos ao clímax. E não é a toa que a criança reclamava do filme. Harry Potter 7-1 é o tipo de filme que pode causar um trauma na criança que entra na sala de cinema esperando ver bruxinhos balançando suas varinhas inconsequentemente. Desde a primeira cena, com ilustrações de jornais com notícias de mortes, seguida por outra onde ilustra uma pessoa sendo brutalmente assassinada e entregue como jantar à uma cobra, Harry Potter 7-1 apresenta um peso e um tom de ameaça e quase pânico que faz com que os personagens se tornem sufocados e paranóicos. A trama se passa em um mundo em guerra: cruzando a fronteira entre o mundo mágico e aquele habitado pelos trouxas, as maquinações de Voldemort já atingem os humanos, obrigando a jovem Hermione, por exemplo, a apagar a memória dos pais e qualquer traço de sua própria existência a fim de protegê-los, ao passo que os cruéis tios de Potter finalmente têm seus piores temores sobre os bruxos confirmados ao serem obrigados a fugir rapidamente da casa na qual viveram por décadas. Assumindo o controle do Ministério da Magia, os Comensais da Morte agem como todos os ditadores que assumem através de um golpe de Estado, insistindo em assegurar a população de que tudo continuará a funcionar normalmente enquanto usam a força para suprimir qualquer oposição, empregando ainda a mídia como forma de repugnante propaganda. Perseguidos e amedrontados, Harry, Hermione e Rony decidem então que a única chance que possuem reside na destruição das horcruxes que contêm pedaços da alma de seu inimigo e, assim, partem em busca dos objetos numa missão arriscada e exaustiva.


Recomendação: não vá para o cinema assistir Harry Potter 7-1 caso sua intensão seja ver uma batalha entre o bem e o mal, com feitiços voando para todos os lados e combates sucessivos. Sim, a ação presente no filme é intensa em seus momentos e a direção de David Yates se mostra correta ao empregar uma câmera inquieta e trêmula, enfocando o caos e o pânico das situações além de evidenciar o sentimento de desespero de pessoas que não estão apenas lutando, mas sim FUGINDO de uma ou mais ameaças. 


Mas o foco do projeto fica claro desde o primeiro momento em que vemos os três personagens principais se preparando para uma missão de deslocamento. O filme retrata não uma batalha física, mas psicológica, e enfoca o desgaste gigantesco que isso causa em seus envolvidos. O sofrimento psicológico é retratado de maneira brilhante não só pelo diretor como pelos três atores principais. Correção: pelos quatro! Daniel Radcliffe consegue mais uma vez transpassar o peso da responsabilidade de um jovem que carrega nas costas a esperança de todo um povo, enquanto Rupert Grint prova novamente que é um ator fenomenal ao retratar o endurecimento crônico sofrido pelo antes divertido e brincalhão Rony, que agora não se intimida ao pensar em assassinar um indivíduo por este ter causado ferimentos em um familiar. Porém quem se sobressai no trio, para minha surpresa admito, é Emma Watson, que consegue carregar toda a dificuldade e peso dramático da narrativa com segurança, provando que com a experiência adquirida durante todos esses anos "hermionescos", a mesma fortaleceu sua interpretação e fugiu das caras e bocas que fazia anteriormente. E Ralph Fiennes continua ameaçador como Voldemort, e também reflete a frustração de um homem que não consegue atingir seus objetivos exclusivamente por conta de um garoto que seja por sorte ou por destino sempre supera suas expectativas, e sua busca frenética por algo ilustra seu desespero.

Esse estado de total desesperança por parte dos personagens é também refletido na paleta de cores acinzentadas que o diretor de fotografia pinta. Oscilando entre o preto e branco acinzentado e o preto total, o design de produção também brilha em apresentar ambientes gigantescos que ilustram o universo bruxo não de forma gratuita, mas com a intensão de ilustrar o quão sombrio ele pode ser. Assim, o pânico dos três bruxos ao adentrarem no Ministério da Magia é palpável devido a grandiosidade (e intimidação) que o local passa.

Já se tornou cansativo também ouvir dos fãs mais tradicionalistas reclamações sobre as diferenças entre o filme e o livro. É óbvio que algumas adaptações precisam ser feitas para passar um livro de mais de quinhentas páginas para um filme de quase três horas. Adaptações para agilizar um entretenimento visual que exige mudanças mais constantes que uma longa história lida. Sendo assim, os saudosistas vão torcer o nariz para as alterações feitas pelo diretor, mas já faço a ressalva: foram absolutamente bem vindas e não prejudicam o produto final, apenas engrandecendo o roteiro e o desenvolvimento da trama. E cá entre nós: se a própria autora aprovou e analisou cada alteração, pode-se esperar por algo menos que ótimo?

Contando com os melhores efeitos especiais de toda a série (os elfos nunca foram tão reais), Harry Potter 7-1 trata o espectador com respeito, sem subestimar o conhecimento e a inteligência do mesmo. Assim, termos absolutamente "potterianos" como os feitiços ("Accio!", "Diffindo!", "Obliviate!") e expressões como "aparatar" e "estrunchar" passam batido, sem explicações, pois depois de todos esses anos o espectador já deve ter ouvido (nos filmes anteriores) ou lido, ou tem sempre um amigo que já o fez e que lhe é capaz de explicar.


Assim, envolvido no clima e no universo que a história ilustra, o espectador tem em Harry Potter 7-1 a mais tocante de todas as cenas em seu final, superando até mesmo as mortes de Sirius Black e Alvo Dumbledore. E o que é mais surpreendente: o personagem nem é interpretado por um ator!

Com uma montagem arrojada e evitando o tom episódico e até mesmo passageiro que poderia ter (afinal de contas, lembrem-se que este é apenas parte de um grande filme dividido em dois), Harry Potter 7-1 consegue a proeza de ser o melhor filme até hoje apresentado, superando até mesmo seu antecessor que foi realmente ótimo. Lamento que a criança não tenha gostado do filme e que o homem tenha reclamado da falta de ação - apenas um atestado da mais absoluta incapacidade de compreender as necessidades do projeto -, pois os dois não possuem a maturidade cultural para apreciar uma obra como essa. A criança vai crescer e com sorte irá assistir essa série fantástica como uma obra prima do cinema (e porque não, da literatura); o homem, eu já não sei...

Infelizmente a série está acabando. E presenciar uma cena onde Harry Potter visita pela última vez seu antigo "quarto", embaixo da escadaria da casa dos Dursley, passa o mesmo sentimento que talvez ele sentiu: saudades de um tempo que, por mais difícil que fosse, talvez não fosse tão ruim assim.

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